O livre brincar
O livre brincar
Recentemente ouvi uma entrevista com a responsável pelo documentário “Território do Brincar: diálogo com as escolas” que chamou muito a minha atenção. A educadora Renata Meireles e o documentarista David Reeks ficaram dois anos registrando o universo brincante das infâncias do Brasil. Eles visitaram várias escolas e comunidades. Algumas conclusões interessantes foram levantadas:
♦ Disponibilizar um tempo para o brincar. Mas não meia hora! Meia hora é o tempo de pensar… até o criar… o fazer e agir. Em meia hora não acontece o brincar. Encontrar o quintal da escola. É o espaço da brincadeira espontânea e livre.
♦ O Território do Brincar trouxe a questão dos brinquedos não estruturados. Nós percebemos que esses materiais trazem uma reflexão maior, a criança cria muito mais, brinca muito mais e imagina situações que não experimentaria com outros materiais.
Se oferecemos um tronquinho, tem que sair alguma coisa de dentro da criança para o tronquinho se transformar em outra coisa. Ele é um objeto pouco pronto, então ele exige da criança uma atividade interna para ela brincar.
Qualquer coisa que a natureza oferece traz sugestões. O tronco tem a curvatura, de repente tem um buraco que se pode passar alguma coisa. Já o brinquedo industrializado é igual sempre.
♦ As imagens das crianças da comunidade Pomerana (Espírito Santo), serrando com serrotes bem pertinho do dedo do pé, com martelos, mexeu com os educadores. Porque vamos cercando as crianças numa bolha: não pode isso, não pode subir na árvore porque é perigoso, não pode andar descalço porque está frio, não pode ficar sem blusa. Trazer as ferramentas assustava os educadores. O que vai acontecer? Vão martelar o dedo? Vão serrar? Mas não aconteceu nenhum acidente! As crianças se organizam e os conflitos são bem resolvidos por elas.
♦ Assistir o brincar de diferentes faixas etárias juntas provocou os educadores. O brincar na Educação Infantil isola os pequenos. Planejamos o brincar dos pequenos nos intervalos do brincar dos grandes por proteção. Os pequenos tem muita admiração pelas brincadeiras dos grandes: como conseguem subir numa árvore tão alta e construir casinhas tão lindas? Isso desperta nos pequenos a vontade de aprender e crescer. Os pequenos só olham os grandes. Parece que não estão fazendo nada. Depois, de repente, eles sabem fazer também! Quando tem só uma faixa etária brincando é difícil isso acontecer.
♦ Comecei a contemplar o brincar das crianças, observar e perceber o quão rica a brincadeira pode ser.
Quando a criança está brincando não é hora de descanso, de café, de bater papo. É hora de olhar e entender o que essa criança está fazendo e o que está dizendo sem palavras. É o que ela fala sem falar. É conseguir escutar o corpo das crianças que estão dizendo tudo corporalmente.
♦ Tem criança que a primeira coisa que faz de manhã, quando chega na creche, é pegar todos os móveis para construir casinha. Percebi que às vezes a casinha era construída, mas não era ocupada pela criança. Em outro momento ou outro dia essa casinha passava a ser ocupada. Então, tem o tempo e o espaço que a criança precisa para fazer essa brincadeira. Será que estamos deixando a criança ser criança?
Fonte: Territorio do Brincar
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Adaptação: Cláudio Martins Nogueira – psicólogo clínico