O jogo dos sete erros
O jogo dos sete erros
Ao longo de mais de 26 anos convivendo com as famílias de dependentes químicos foi possível detectar alguns erros mais comuns ao longo do tratamento. Desde a demora do diagnóstico e da iniciativa de buscar o tratamento, os erros continuam acontecendo ao longo deste caminho. Neste espaço vamos refletir sobre os sete erros mais comuns cometidos pela família durante o processo de internação do dependente químico:
Erro n:1 – Relaxar no tratamento: após a internação a família tende a se afastar das reuniões e da psicoterapia. Como o maior problema foi aparentemente resolvido, a família tende a relaxar e acreditar que nove meses está longe demais para se preocupar com isto agora;
Erro n:2 – Ceder às vontades do residente: vítima do temor do dependente desistir do tratamento, a família vai atendendo todos os pedidos dele, afinal, se falar “não” corre o risco do mesmo sair da fazenda e começar o inferno tudo de novo;
Erro n:3 – Não procurar informações: a família acredita que somente o dependente precisa se tratar. Ela já está fazendo demais pagando o tratamento para ele e que não precisa envolver mais do que isto. “Para que ler sobre este assunto se não tenho este problema comigo?”
4 – Cair na chantagem emocional do residente: é comum ao dependente químico ao se internar fazer um jogo de chantagem emocional com a família. O discurso de como a Comunidade é ruim, como está sofrendo lá com perseguições da coordenação e dos demais residentes é uma rotina para aqueles que ainda não entenderam o tratamento.
5 – Tomar a chá de “já tá bão”: assim como o dependente toma o famoso chá do “já tô bão”, a família ao se deparar com o seu ente querido fisicamente recuperado tende à ilusão que agora ele já está bom para voltar e que ele não precisa realmente ficar os nove meses.
6 – Ressuscitar “defunto”: A família codependente ao visitar o dependente tende a discorrer sobre fatos do passado, especialmente do período da ativa. Isto cria um mal estar enorme no contato familiar e não resolve nada, pelo contrário, só atrapalha;
7 – Só fala de problemas: a visita resume em falar dos problemas financeiros, de saúde e de convivência na família. O residente fica confuso e sem saber o que fazer acaba tomando a decisão de desistir do tratamento.
Enfim, dezenas de erros acometem a família codependente. Com certeza quem leu esta matéria vai ficar pelo menos atento a não cometer estes erros na próxima visita. Infelizmente, aqueles que não se interessam por este assunto vão continuar errando e sofrendo as consequências destes erros ao longo da vida. A decisão é de cada um, mas as consequências podem afetar muitos.
Cláudio Martins Nogueira – psicólogo clínico