A esmola quando é muita até o santo desconfia
A esmola quando é muita até o santo desconfia
Este ditado surgiu provavelmente dentro da Igreja Católica. Segundo suas tradições centenárias, eram comuns fazer doações financeiras e até mesmo bens materiais para seus considerados Santos e padroeiros. Alguém, responsável por estas coletas deve ter desconfiado de alguns fieis que estavam fazendo doações vultosas até mesmo acima de suas posses para o Santo de determinada paróquia. A leitura que esta pessoa fazia devia ser que, se o volume de doações era grande era porque os pecados também deveriam ser. Assim, cabia ao Santo desconfiar desta esmola.
Tirando a religiosidade deste ditado, é possível fazer uma reflexão mais profunda sobre ele. A primeira delas é que tudo que é conquistado sem esforço é passível de desconfiança. Na maioria das vezes são conquistadas de maneira escusa e ilícita. Promessas mirabolantes de “cura” sem nenhum esforço viraram uma verdadeira epidemia na nossa sociedade. Na internet e nos meios de comunicação social em geral temos uma avalanche de receitas que prometem solucionar todos os problemas humanos.
A segunda lição que podemos tirar deste ditado é que somente o trabalho digno, suado e provido de princípios éticos e morais serão capazes de conquistar a confiança do Santo. Em outras palavras não é possível enganar a Deus e às leis da natureza. Sempre que tentarmos “manipular” os Santos com esta esmola impregnada de segundas intenções não vai dar certo.
Buscando uma reflexão mais específica da dependência química é possível perceber que a família e o próprio dependente não raras vezes são seduzidos por estas “esmolas” exageradas oferecidas no mercado. Clínicas e Comunidades Terapêuticas oferecem um projeto de tratamento maravilhoso a um custo simbólico e a promessa de cura em algumas horas ou dias.
Desta maneira, os nossos antepassados estavam certos ao afirmarem “esmola quando é muita até o santo desconfia”. Uma boa lição para evitarmos ser surpreendidos numa cilada.
Cláudio Martins – psicólogo clínico