O pensamento adicto
O pensamento adicto
Quando nos deparamos com a dependência química encontramos um verdadeiro desafio a ser enfrentado. Na maioria das vezes, a grande mídia foca muito no tema da droga e seus efeitos devastadores sobre o sujeito que usa. Poucas são as vezes que a atenção é voltada para este ser humano que faz o uso abusivo e dependente.
Como funciona sua mente? O que passa na cabeça de um adicto antes, durante e depois do uso da droga? Como ele se relaciona com o outro? Quais são seus valores e crenças? Enfim, uma infindável de dúvidas e incertezas pairam no ar de todos. Visando esclarecer alguns destes pontos vai aqui algumas reflexões importantes para entendermos o pensamento adicto:
1 – O pensamento adicto é fantasioso: na sua mente ele entende o mundo como uma criança, ou seja, constrói dentro de si uma realidade total ou parcialmente desfocada do mundo real. Seus “delírios” podem chegar aos extremos preocupantes. Exemplo clássico disto são os projetos mirabolantes para ganhar dinheiro da noite para o dia e é claro, a própria fantasia de acreditar que o uso das drogas esta sob controle e que para quando quiser.
´Assim, é possível perceber que, na medida em que a adicção evolui, ocorre uma paralização do amadurecimento psíquico, ou seja, apesar de ocorrer um amadurecimento biológico normal de todos os seres vivos, o dependente químico psiquicamente se mantém na “adolescência”. Por isto que quem convive com um adicto percebe comportamentos infantis no homem de 30/ 40 anos ou mais.
2 – O pensamento adicto é egoísta: na medida em que a dependência evolui, na maioria das vezes, somente o interesse de usar a próxima dose prevalece. Ele será capaz de passar por cima de tudo e de todos para alcançar este objetivo. Neste estado psíquico e emocional o dependente perde provisoriamente os seus princípios éticos e morais, podendo cometer delitos até mesmo com entes queridos.
A família, dentro deste quadro clínico, sente que o seu ente querido não demonstra nenhuma consideração e afeto com eles. Quando isto acontece, na maioria das vezes é como uma forma de manipulação visando conseguir alcançar seus interesses egoísticos de alcançar mais uma dose.
3 – O pensamento adicto é viciado em receber: ao longo da sua relação com os seus codependentes ele aprendeu a ter tudo em suas mãos. Assim, ele ficou viciado em receber dos seus familiares. Ao contrário, os codependentes ficaram com o tempo viciados em doar.
Esta relação foi evoluindo para uma relação tóxica de ambos os lados. A família se sente o tempo todo explorada, enquanto que o dependente olha para ela apenas como uma fonte de proventos e resolução dos problemas ocasionados pelo uso abusivo das substâncias.
4 – O pensamento adicto tem dificuldades de agradecer: no seu egocentrismo desenvolvido ele pensa que os outros tem a obrigação de atender todas as suas necessidades. Desta forma, eles são eternos insatisfeitos e sempre ficam no lugar do “pidão” e da “vítima” incompreendida por todos os familiares.
5 – O pensamento adicto desvaloriza o próprio sujeito: sua autoestima e a autoconfiança foram destruídas pelo consumo excessivo da droga. Ele pensa que não tem valor e que ninguém o considera.
Assim posto, fica claro a necessidade de não só ajudar o dependente a sair das drogas, como também a importância de tratar da qualidade destes pensamentos. Se isto não ocorrer o pensamento doente pode provocar recaídas frequentes.
Para tanto, o tratamento em grupos de apoio, psicoterapia com um bom psicólogo especialista na área e até mesmo um bom médico podem ajudar.
O apoio espiritual também pode contribuir com a melhora considerável dos pensamentos adictos, trazendo como consequência uma melhora no seu quadro clínico.
É importante ressaltar também que o tratamento deve ser estendido para toda a família, afinal, conviver com um sujeito com estes conteúdos psíquicos é sempre um desafio para qual todos devem se preparar para ele.
Cláudio Martins Nogueira
Psicólogo Clínico – Especialista em DQ e codependência