Drogas: As fases da dependência química
Drogas: As fases da dependência química
Apesar da dependência química ser considerada uma doença classificada pelo CID 10 (Código Internacional de Doenças) pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a grande maioria da sociedade (inclusive profissionais da saúde) ainda considera esta doença como resultado de uma falta de caráter, de moral e associa sempre o doente dependente químico como um vagabundo, malandro e marginal.
Diante desta realidade cruel, faz-se necessário o esclarecimento de como esta doença evolui e suas características em cada uma das fases da sua evolução, mesmo porque, o senso comum da sociedade compartilha de ideias preconceituosas sobre quem é o “doente” e quem é o usuário social da droga.
Primeira Fase – Uso experimental: Normalmente ocorre na pré-adolescência ou na adolescência. Como vivemos num mundo adicto, raramente uma pessoa não vai passar por esta fase. Felizmente, a grande maioria não possui a doença da dependência química. Na medida em que vai amadurecendo e assumindo responsabilidades, o consumo vai se manter estável, sem comprometer sua saúde física e o ambiente onde vive. A dependência química, porém, mostra a sua “cara” já nesta fase. O doente manifesta já alguns sintomas:
- – Um prazer “terrível” com esta experiência;
- – Uma tolerância a doses cada vez mais frequentes e maiores;
- – Um alivio imediato de suas “dores” emocionais;
- – Uma sensação de “autoconfiança” e “autoestima” elevada;
Assim, o DQ tende a evoluir do uso experimental para a próxima fase:
Segunda fase – Uso ocasional: Da adolescência à juventude, esta fase se caracteriza por usos ocasionais, ou seja, em festas, férias ou mesmo em alguns finais de semana. Neste período, o usuário, seus familiares e amigos, ainda não percebem nenhum problema. Acreditam que isto é normal na juventude, especialmente o consumo do álcool. Eventos de abuso são raros nesta fase.
Terceira fase – Uso abusivo: Com mais frequência entre jovens e adultos, o uso/abuso das substancias passam a ser mais comuns, porém ainda não se observa um comprometimento mais grave, como por exemplo, doenças físicas, queda na produção intelectual e laboral, relacionamentos familiares, etc. Nesta fase, na maioria dos casos, a hipótese de uma possível dependência química ainda está descartada por todos, inclusive pelo usuário.
Quarta fase – O início do descontrole: Os problemas começam a aparecer de maneira pontual. Dificilmente o dependente químico consegue ir em algum evento sem fazer uso abusivo até passar mal. A ressaca física e moral começa a aparecer no outro dia. A esposa e demais familiares tentam controlar o uso abusivo do dependente sem sucesso algum. Aqui inicia as promessas vazias que jamais serão cumpridas. A tentativa de controlar o uso (seja da família e do próprio dependente) está fadada ao fracasso. A dúvida sobre o uso social ou abuso dependente começa a aparecer.
Quinta fase: O descontrole: Os problemas com o consumo da droga se tornam mais frequentes. Os comprometimentos financeiros, físicos, emocionais, profissionais, mentais e sociais começam a aparecer. Ainda nesta fase, muitos dependentes químicos são funcionais, conseguem trabalhar e serem produtivos, apesar do rendimento sofrer danos significativos;
Sexta fase: O descontrole total: O domínio da doença sobre o sujeito completou seu ciclo. No linguajar da psicologia: “o sujeito perdeu a condição de sujeito e se tornou um objeto da droga”. Não é ele que usa a droga, é a “droga” que usa ele. Os comprometimentos anteriores viram rotina, acompanhados de crises de abstinência, fissura, agressividade e violência verbal e as vezes físicas. Acidentes de trabalho, de trânsito e de brigas vão se tornando cada vez mais frequente.
Infelizmente, a maioria dos familiares e dependentes químicos só procuram ajuda nesta fase onde a reversão do quadro é muito difícil e muito dolorida, mas sempre é possível. Quanto mais rápido buscarmos ajuda maiores as possibilidades do sucesso.
Cláudio M. Nogueira – Psicólogo – Especialista em dq