Modus vivendi
By Cláudio

Modus vivendi

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Todos que enfrentam o desafio de superar um vício, um mal hábito já se deparou com uma realidade cruel. Tantas tentativas, tantas promessas não cumpridas e acúmulo de frustrações e fracassos vão fazendo coleção.

Na dependência química, por exemplo, essa luta dura anos, décadas e muitas vezes perdura pela vida toda e, infelizmente, não raro terminam em verdadeiras tragédias sociais e familiares.

Certa vez, eu perguntei para um jovem dependente de cocaína por quanto tempo ele estava tentando parar de usar a droga. Para minha surpresa, ele me respondeu:

– Dr, vou te falar uma coisa que tenho certeza que o senhor nunca ouviu de nenhum paciente seu. No fundo todo dependente de drogas está tentando parar de usar desde quando ele começou a fazer o uso.

O meu paciente tinha razão. Nunca tinha ouvido isto de ninguém. Isto me marcou profundamente e me fez a repensar sobre a dor e a luta de um adicto procurando ficar sóbrio.

O que poucas pessoas sabem é que eles não vão conseguir sair das drogas sem alterar o “modus vivendi”, ou seja, o seu modo de viver, de conviver com as outras pessoas e de lutar pela sobrevivência.

Na Fazenda de Caná eu dizia sempre para os nossos residentes: “Vocês não vieram para cá apenas para parar de usar drogas, vocês vieram para mudar seu estilo de vida”. A literatura dos Grupos Anônimos nos convida a evitar pessoas, coisas e lugares. Eu vou além disto, temos que acrescentar algo prazeroso no nosso “modus vivendi”. Encontrar um propósito na vida, uma causa pela qual lutar.

Martin Luther King tem uma frase que sintetiza bem isto: “Aquele que não encontrou uma causa pela qual morrer, ainda não encontrou uma razão para viver”. Um dependente químico não é viciado apenas na droga. Ele é viciado num “modus vivendi” onde a falta de perspectiva, a falta de um projeto de vida de longo prazo, a procrastinação, a preguiça, a irresponsabilidade e imaturidade psicológica é uma constante no seu estilo de vida.

Como a maioria dos DQs são pessoas sensíveis e boas, eles possuem uma necessidade enorme de encontrar um outro “modus vivendi” voltado para ser útil ao próximo. Está a serviço da humanidade dá sentido a ficar sóbrio. Dinheiro, luxo, bens materiais e status não preenche a alma de um DQ. Ele já teve tudo isto e jogou fora porque nada disto no fundo não significava nada para ele.

Com sabedoria, os Grupos Anônimos procuram trabalhar valores como honestidade, serviços, solidariedade e companheirismo entre seus membros. Só assim a sobriedade pode se tornar uma realidade na vida de um DQ.
Claudio Martins Nogueira – Psicólogo – Especialista em dq

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  • 20/07/2023
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