Divã IV – O marido e a esposa
O Marido:
– Te contei? Estou programando uma viagem surpresa para comemorar o nosso aniversário de casamento. Portugal. Ela sempre quis conhecer. Já combinei tudo com a minha sogra, vai ficar com as crianças. Vinte anos de casado, quem diria, e eu continuo absolutamente apaixonado por ela, cada dia mais. A idade a deixou ainda mais linda, me dá até raiva. Ela tem reclamado que estou estressado, isso nos distancia justamente porque acho que é ela que quer ficar longe de mim. Não tolera pessoas estressadas. Daí a gente acaba esfriando e eu não sei como me aproximar. Quando ela está dormindo, aí sim, fico horas olhando para ela, babo mais do que ela baba no travesseiro, e coloco pra fora todo o meu amor.
– Por que você não declara o que sente por ela (quando ela está acordada)?
– Ela já sabe, é tão óbvio! E ela é do tipo que não gosta de ninguém muito em cima. Melhor deixar ela entender pelo meu olhar.
A Esposa:
– Ele não gosta mais de mim, não me nota mais. Me sinto feia e desinteressante. Ele anda tão estressado, tão ensimesmado nos problemas do dia a dia. Eu sei que as coisas não são fáceis … trabalho, responsabilidades. Mas se eu ainda fosse importante para ele, com certeza não estaria desse jeito, tão desanimado, tão frio. Quanto tempo a gente não viaja? Quanto tempo ele não me faz uma surpresa? Quanto tempo ele não me diz que estou bonita, que gosta de mim? O fato é que ele se desligou. Sinto falta de “nós”. Ele não gosta mais de mim. Me dá esse lenço de papel aí, Dr.
– E você já falou para ele que você sente falta do “nós” de vocês?
– Para falar desse “nós”, e ele ouvir, teria que desatar muitos nós dentro dele. Ele nem quer saber, melhor deixar assim, quem sabe um dia ele se toca. Ou, sei lá, eu me toco.
Meu comentário:
O maior problema dos casais não é a falta de diálogo, de amor e nem de sexo, mas sim, a falta de conexão. É notório neste casal como eles se desconectaram. Todos os problemas são oriundos deste. Como então reconectar novamente? Três formas muito eficazes para se conseguir isto:
1º) Através do toque, do abraço e da atenção ao outro. Escutar a sua dor sem fazer juízo de valor;
2º) Uma outra forma é se conectar consigo mesmo através do autoconhecimento;
3º) E por último, a espiritualidade e a religiosidade;
Estas dicas pressupõem que ambos estão sentindo a necessidade de se conectar novamente. Caso contrário, todos os esforços serão em vão.
O terapeuta deve trabalhar nesta linha e, assim que possível, fazer a mediação num processo de terapia de casal.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico