“A” de abelha, “E” de elefante, “Z” de zabumba
Recentemente fomos convidados a apresentar o Amor-Exigente para um grupo de pessoas interessadas em implantar o programa em uma cidade vizinha, cuja identidade prefiro preservar. No dia e horário combinados deslocamos até o local e fomos muito bem recebidos por uma equipe de pessoas dispostas e interessadas.
Era uma escola dos anos iniciais e reservaram uma sala de aula para a apresentação. As cadeiras estavam enfileiradas em frente a um quadro negro, onde se via, logo acima, um varal feito com barbante, com muito capricho, onde penduraram as letras do alfabeto acompanhadas de figuras para ajudar as crianças a memorizarem cada letrinha.
Até aí, tudo muito bem, mas o que chamou a nossa atenção foi a figura escolhida para representar a letra “K: uma lata de cerveja cuja marca inicia com “K”.
O varal me fez relembrar da minha escola na infância, da primeira professora, dos colegas de classe, e da cartilha “Caminho Suave”. Ainda preservo na memória cada figura correspondente a cada letra do alfabeto, desde o “A” de abelha, o “E” de elefante, até o “Z” da zabumba.
A cena vista hoje retrata o quanto vivemos em uma sociedade em que o álcool é culturalmente aceito e glamourizado. As empresas investem alto em campanhas publicitárias, ligando a marca ao prazer, ao sucesso, à alegria e o primeiro contato da criança com a substância costuma acontecer dentro de casa, com anuência dos pais.
Ignora-se que o álcool também é droga, mesmo que lícita para maiores, de alto poder destrutivo para aqueles que se tornam dependentes dele, e não são poucos. Segundo estimativas, uma parcela superior a 10% da população possui problemas relacionados a esse produto.
Infelizmente, a conscientização dos riscos que o consumo do álcool representa é quase nula. Se é desesperador ver pais mergulharem a chupeta do bebê no copo de cerveja, não menos desesperador é ver uma escola utilizar a imagem de uma substância alcoólica na alfabetização de crianças.
Não consegui sair do local, sem alertar sobre a cena. Trocar a imagem é urgente, mas não basta: precisamos mudar mentalidades. Consciência começa com “C”, mas bem que poderia começar com “K”, assim poderíamos trocar a figura da cerveja por “Konsciência”.
Celso Garrefa
www.aesertaozinho.blogspot.com.br
Assoc. AE de Sertãozinho SP