A codependência e o tratamento
Fato recorrente no meu consultório é a chegada de familiares ansiosos para que seus entes queridos envolvidos com o álcool e outras drogas aceitem o atendimento psicológico.
Infelizmente, com raríssimas exceções, não existe demanda de tratamento dos mesmos. Algumas vezes eles até aceitam o atendimento, mas como uma forma de barganha com a família. Fingem que estão se tratando com o objetivo de dar uma satisfação e conseguir algumas regalias com à família.
A família, por outro lado, muitas vezes terceiriza a responsabilidade para o profissional de dar uma “receitinha de sobriedade” para o meu menino. Este é o primeiro manejo que o especialista deve fazer, ou seja, procurar envolver a família também dentro de um processo terapêutico.
Assim como a dependência química, na codependência existe também o desconhecimento da doença e depois a negação da mesma. A família tem também muitas dificuldades de entender que precisa de tratamento. Ela gasta fortunas com o tratamento do dependente químico sem grandes resultados e, quando precisa investir no seu próprio tratamento, nunca tem dinheiro e tempo. Muitas das vezes, são dezenas de anos cometendo este erro que vem sempre acompanhado de muita dor e sofrimento.
Certa vez, num Grupo Terapêutico que estava facilitando, eu falei esta frase:
“A codependência nos empurra para a escravidão e o tratamento para a nossa libertação”
Este processo possui três fases distintas:
.1 – Ela começa tomando consciência da sua real situação, ou seja, ela está doente e precisa de ajuda.
2 – Num segundo momento, ela aprende a ideia do autocuidado, do amor próprio, do autoconhecimento e da importância do lema dos grupos anônimos: Viver e deixai viver.
3 – Num terceiro momento, a família se depara com a magia do “desligamento emocional” e é aqui que ela vai encontrando a libertação.
O tratamento da família, além de libertá-la, liberta o dependente químico do controle excessivo do codependente, possibilitando assim ao mesmo se implicar com sua própria vida, assumindo as responsabilidades pelas suas escolhas e consequências, podendo trazer a demanda de tratamento do adicto.
E aí? Qual a sua escolha? Continuar vivendo na escravidão ou ir em busca da sua libertação através do seu tratamento?
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico – Especialista em DQ