A “auto escola” da sobriedade.
Palavra bastante utilizada nos consultórios de psicologia e nos grupos de apoio que acolhe familiares e dependentes de álcool e outras sem sombra de dúvidas é “difícil”. Quando a família se depara com a experiência de ter um adicto dentro de casa é um desafio enorme. Todos são surpreendidos com esta realidade tão cruel. Ninguém sabe o que fazer e na maioria das vezes, tudo que é feito dá errado.
Assim, a famosa frase “é difícil” se torna quase um mantra de todos. Nós chegamos desesperados no grupo de ajuda mútua e no psicólogo acreditando que é impossível resolver tão grave problema. Temos a certeza que o pior caso que existe na face da terra é aquele que estou enfrentando.
Aos poucos, a medida que tomamos consciência dos problemas dos outros, percebemos que sempre tem um caso pior ou melhor do que o da nossa família. Eu costumo dizer que este é o primeiro comprimido que tomamos na primeira reunião. Saber que não estamos sozinhos nesta caminhada e que outras famílias estão sendo afetadas pela mesma situação.
Na medida que o tratamento da família evolui, ela vai percebendo que não existe nada fácil ou difícil. O que existe é se estamos ou não preparados para o enfrentamento do problema.
Eu costumo utilizar da analogia da auto escola. Dirigir um veículo não é nem fácil e nem difícil, dependente do preparo da pessoa que vai dirigir. Se ela entrou na autoescola, estudou e praticou com o suporte do instrutor, ela vai aprender a dirigir. Depois de alguma prática, o dirigir cai no piloto automático e se torna algo fácil de executar.
Da mesma maneira, se nós damos a chave do nosso carro para alguém dirigir e se ela não frequentou a auto escola e não tem o hábito de dirigir, tirar um carro do lugar para ela vai ser difícil.
Assim, para alcançarmos a sobriedade precisamos entrar na “autoescola da sobriedade”. Estudar e treinar até entrar no piloto automático. Leituras sobre o assunto, assistir vídeos e lives, participar de grupos de apoio, seminários, encontros, fazer tratamento psicológico e as vezes médico, internações em comunidades terapêuticas são a “auto escola da sobriedade”. Só assim, com a ajuda de instrutores, aprendemos a dirigir nossa vida pelas estradas da sanidade psíquica e física.
Treinar para ficar sóbrio, isto vale para familiares e dependentes químicos, só assim este problema deixa de ser difícil para se tornar algo mais fácil.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico – Especialista em D.Q.