“Perdeu, mané”
Esta frase ficou famosa em todo o Brasil. Com duas palavras ela sintetiza um discurso filosófico de horas a fio de uma profunda palestra sobre o processo do luto, processo esse tão importante para o nosso desenvolvimento humano. A maturidade acontece realmente é quando aceitamos as nossas perdas e elaboramos assim o nosso luto. O imaturo continua preso na negação, na raiva, na depressão, no pensamento mágico e na tristeza pelas suas perdas.
A primeira fase do luto é a negação do fato. Em estado de choque diante da realidade que não atendeu nossas expectativas, passamos a negar o fato. Não acredito que aconteceu isto. Meu candidato perdeu a eleição ou a seleção brasileira perdeu para Croácia.
A segunda fase é a raiva. A revolta toma conta dos nossos sentimentos e, de maneira precipitada, falamos e fazemos coisas de cabeça quente. Procuramos culpados pelo fato ocorrido e xingamos nossos supostos “inimigos”, responsável por aquela tragédia.
A terceira fase é a depressão. Aqui a raiva toma o sentido contrário, ou seja, ela vai para dentro do próprio sujeito. A culpa foi minha porque eu não me dediquei mais. Entramos aqui na paranoia do “SE”. E se eu tivesse feito isto….se tivesse feito aquilo. A culpa empurra o sujeito para a depressão.
A quarta fase é a barganha ou pensamento mágico. O sujeito aqui procura racionalizar a perda e negocia com ela. Eu perdi porque foi Deus é que quis. O meu político foi roubado, porque existe todo um sistema contra ele e que ele vai dar uma volta por cima.
A quinta fase é a tristeza profunda. Nada do que ele idealizou e racionalizou aconteceu. A realidade do fato “bate” em sua cara. A dor é profunda e a perda é irreparável e irreversível.
A sexta e última fase do luto é a resolução ou aceitação. Aqui todas as esperanças do retroceder do fato vão por água a baixo. Aqui entra a tão falada frase de uma autoridade jurídica brasileira: Perdeu mané!
O primeiro passo dos grupos anônimos é a última fase do luto: Admito que sou impotente pelo álcool e outras drogas e que tinha perdido o controle sobre a minha vida. Em outras palavras, o dependente e o codependente precisa falar para eles mesmos: PERDEU, MANÉ!
Somente quando chegamos nesta elaboração do luto que estaremos em condições de fazer novamente outro investimento psíquico e retomar nossa vida. O luto está sempre presente em nossas vidas. Precisamos aprender a lidar com nossas perdas, como diz um ditado antigo: “Aceita que dói menos”
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico – Especialista em DQ