Drogas Inalantes: o perigo está no ar – I
Não se surpreenda.: os inalantes e solventes são as drogas mais usadas pelos estudantes brasileiros, depois do álcool e tabaco. Não faz nenhum sentido que substancias, muito úteis, mas tão perigosas, como os solventes, redutores, colas, tintas e afins sejam usadas deliberadamente por pessoas de variadas origens e classes sociais com o objetivo de se drogar.
O sucesso desses depressores do sistema nervoso vem principalmente do fato de serem fáceis de comprar e não custarem muito caro. A onda dos inalantes é parecida com o álcool, só que tão tóxicos chegam a provocar visões, como os alucinógenos. Benzina, clorofórmio, éter – entre outras substâncias químicas – são a base dessas drogas.
As mais conhecidas e usadas são as colas, o cheirinho-da-loló e o lança-perfume.
Cheirar cola não é um hábito novo. Nem é exclusividade de meninos e meninas de rua, como muita gente pode até pensar. Cheirar loló também não é nenhuma novidade, já na primeira metade do século passado, quando a boemia misturava artistas, desocupados e batedores de carteira, a malandragem das cidades adotava largamente este inalante barato e forte, a base de clorofórmio e éter.
Outro inalante bem conhecido é o lança-perfume (cloreto de etila perfumado), que fazia parte da tradição carnavalesca brasileira, junto com o confete, a serpentina e o rei momo. Proibida na década de 1960, é ainda vendida até hoje no mercado negro.
Efeitos no cérebro:
Os efeitos da inalação dessas substâncias lembram, até certo ponto, os do álcool. Vão de uma estimulação inicial a depressão, podendo também ocorrer – ao contrário do álcool – processos alucinatórios. Há relatos de alucinações tanto com uso agudo como com crônico de inalantes. O início é bem rápido – leva segundos ou, no máximo, alguns minutos. Essas sensações duram de 15 a 40 minutos, o que faz com que o usuário repita a inalação várias vezes.
As consequências podem ser divididas em quatro fases:
1) – Sintomas como euforia, excitação, exaltação, tonturas, perturbações auditivas e visuais. Pode ocorrer também náuseas, espirros, tosse, excesso de salivação e faces avermelhadas.
2) – Sintomas como a depressão, confusão mental, desorientação, perda do autocontrole, visão embaçada, cólicas abdominais, dor de cabeça e palidez. Pode ocorrer os processos de alucinações nesta fase.
3) – Sintomas como agravamento da depressão cerebral, redução do estado de alerta, incoordenação motora, fala pastosa, diminuição dos reflexos e incoordenação ocular.
4) – Sintomas com a depressão profunda pode levar a inconsciência, sonhos estranhos e queda da pressão arterial, acompanhada de convulsões e alterações graves no sistema nervoso central, podendo levar ao coma e a morte por asfixia ou parada cardíaca ou respiratória.
Consequências para a saúde
O uso repetitivo (crônico) de solventes pode causar lesões irreversíveis no cérebro. As pessoas que fazem uso crônico de solventes tornam-se apáticas, tem dificuldade de concentração e prejuízos de memória.
Os inalantes provocam sensibilidade do músculo cardíaco à adrenalina. Esta substância é liberada toda vez que o organismo precisa fazer um esforço extra como, por exemplo, correr e praticar certos esportes, e aumenta a frequência dos batimentos cardíacos. Assim, se a pessoa inala um solvente e em seguida faz esforço físico, seu coração pode sofrer uma sobrecarga, que pode levar à morte por síncope cardíaca, principalmente em adolescentes.
O uso crônico de solventes pode levar ainda a lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos nervos periféricos que controlam os músculos. Por exemplo, um dos solventes mais utilizados nas colas é a N-HEXANA. Essa substância é muito tóxica, produzindo a degeneração progressiva dos nervos periféricos, o que pode provocar nas pessoas a caminhar com dificuldade e, com o agravamento do quadro, à paralisia.
Continua na próxima edição
Texto da autora: Hilda Regina Ferreira Dalla Déia
Livro: Tá na roda: uma conversa sobre drogas