Casagrande: “Você usa droga para não sentir dor” (Parte 01)
By Cláudio

Casagrande: “Você usa droga para não sentir dor” (Parte 01)

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Quando estava com 15 anos, Walter Casagrande Júnior fez um trato com si mesmo: não deixaria de viver intensamente. Tinha acabado de perder uma das irmãs, Zildinha, de 22 anos. Ela era a sua melhor amiga e morreu após um infarto fulminante, enquanto brincava com os filhos. “Eu engoli a seco a morte dela e decidi que não ia mudar meu ritmo de vida. Via meus pais sofrerem todo dia e não queria sofrer também.” De maneira inconsciente, ele achou que não podia chorar. “Ficou aquela raiva, tudo para dentro, algo insuportável”, lembra. Para diminuir a angústia, o então adolescente intensificou o uso de maconha, porque fazia nada doer…. Mas a fuga do sentir duraria décadas….
Da maconha,
Casagrande foi para a cocaína, heroína e anfetamina. O ex-jogador usou drogas por 37 anos e, durante seis, devido à intensa dependência, não se lembra de ter sentimentos. Passou por quatro internações e, hoje, aos 59 anos e sóbrio há sete, diz que compreender as emoções foi o maior desafio. “Parar de usar droga em um tratamento fechado [como em clínicas de recuperação] é a coisa mais fácil do mundo, porque lá dentro não tem…. Difícil é o lado de fora. Você deve entender que é um dependente químico e precisa cuidar da saúde mental’, diz Casagrande…
A frieza da cocaína
No final dos anos 1990, após a aposentadoria dos gramados, a frequência e a quantidade de substâncias aumentaram. “Eu virei um dependente químico mais ou menos em 98, 99. Antes eu usava droga, mas ainda tinha relacionamento com os meus filhos, ia ao clube jogar bola com eles”, recorda. Sem perceber, as consequências não demoraram a surgir e ele se afastou das pessoas, além dos sentimentos ficarem opacos. Depois de muitos anos de cocaína, você fica um cara frio, nada mexe muito com você emocionalmente, você não chora, quase não ri. Ninguém que usa cocaína fica contando piada. Ele pouco se lembra de sentir algo entre 2001 e setembro de 2007, quando teve um surto psicótico e capotou o carro em São Paulo. Após o acidente, foi internado involuntariamente pelo filho mais velho, Victor Hugo, na sua segunda passagem pela reabilitação. “Eu não me via um dependente químico, pensava ser capaz de parar a qualquer momento e que devia sair da clínica, só que o meu filho tinha de autorizar”, diz. Como assinava o pagamento da mensalidade, Casagrande decidiu parar. Pensou o óbvio: se não quitasse os débitos, uma hora seria expulso. Mas desistiu quando três ou quatro boletos se acumularam, após um psicólogo questioná-lo se queria voltar a viver como antes. Veio então a parte mais difícil do tratamento: defrontar-se com as emoções.
Continua na próxima edição
Fonte: Veja mais em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/08/31/entrevista-casagrande-saude-mental.htm?cmpid=copiaecola

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  • 09/11/2022
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