Mudar é preciso
By Cláudio

Mudar é preciso

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De um modo geral, é muito fácil perceber – e até prazeroso – criticar os comportamentos dos outros; difícil é reconhecermos a nossa própria falibilidade. Evitamos, com todas as forças e artimanhas, entrar em contato com os nossos erros. Costumamos pensar que nossas percepções e crenças são corretas e inalteráveis, e quem não compartilha dos mesmos pensamentos está errado.

Não suspeitamos de que tudo nos foi ensinado de acordo com os interesses e as conveniências de alguns grupos, em alguma época, por razões alheias à nossa vontade e que, hoje e sempre, tudo precisa ser revisto e atualizado.

O simples questionamento de nossas crenças nos provoca raiva; por isso, nos esquivamos do debate de temas sensíveis à nossa incapacidade de argumentação e tentamos desqualificar, não os argumentos, mas a pessoa do interlocutor. Não o fazemos de caso pensado, mas de modo automático, doutrinário. Nossa mente foi moldada para crer em dogmas e pensar de modo dogmático.

Vale lembrar que “dogma” é um termo grego, cujo significado literal é: “o que se pensa é verdade”; crença ou convicção ensinada como “verdade” inquestionável e indiscutível, e a dúvida ou recusa do dogma é motivo de exclusão do indivíduo de sua comunidade.

Desse modo, é fácil entender nosso amplo repertório de soluções óbvias e ineficazes para os desajustes alheios e a escassez de autocrítica. A mentalidade dogmática inibe o bom senso e desativa o dom natural de questionar. Tal padrão circunscrito de pensamentos nos leva a agir como os donos da verdade. Uma ideia plantada e nutrida na mente infantil chegará à idade adulta fortalecida, enraizada e frondosa, impossível de ser removida sem ajuda externa.

A resistência em modificar comportamentos é uma autêntica fonte de estresse crônico e motivo de desgaste nas relações interpessoais. Na raiz do problema, temos, em nossa história de vida, uma aprendizagem errônea. Somos ensinados a não aceitar nossas emoções, especialmente os sentimentos de frustração. Desse modo, não sabemos lidar com situações quando as coisas não acontecem de acordo com as nossas expectativas.

Diante das frustrações, dramatizamos, gastamos muito tempo e energia tentando impor aos outros o nosso ideal de comportamento. O outro, por sua vez, resiste, insiste em nos impor a sua. O resultado é a manutenção da disputa e um crescente acúmulo de insatisfação recíproca – um escoadouro para a admiração e o respeito.

As disputas inter-relacionais são caracterizadas por jogos de manipulações. Todos tentam manipular uns aos outros, mas só percebemos tais movimentos nos outros. A noção de jogo de poder implica a ideia de vitória. Passamos a enxergar o outro como oponente e, por consequência, nutrimos o desejo de vencer, isto é, fazer prevalecer a nossa vontade. De outro modo, desistir da nossa posição significaria perder.

Ora, se for para manter a ideia de jogo e a gana pela vitória, melhor pensarmos em liderança. Um líder deve conhecer muito bem a si mesmo, seu ofício e todos os jogadores, aliados e adversários. Deve pensar de modo estratégico, mudar as táticas das jogadas e transformar a partida a seu favor. Deve ser flexível, adaptável às circunstâncias e sensível às transformações.
Somos impotentes para mudar as outras pessoas, mas a mudança em nossas atitudes favorece a melhoria da qualidade das relações.

Não há fórmulas para o autoconhecimento, mas alguns pontos são imprescindíveis, tais como abandonar posturas radicalistas, desistir da ideia de querer mudar o outro, vivenciar os próprios sentimentos, aceitar a frustração, aprender e praticar novas formas de pensamentos, atualizar o sistema de crenças.

Afinal…

“Naquele tempo, Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. Por que vês tu o cisco, no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lucas: 6,39-42).

Mara Lúcia Madureira – Psicóloga Clínica

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  • 15/08/2022
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