Os incomodados que se retirem
Ditado muito utilizado no interior de Minas. Os incomodados que se retirem nos convida a refletir sobre vários aspectos:
1º) – Viver em família, na comunidade e na sociedade não deixa de ser algo que incomoda, afinal, conviver com os outros é, não só aceitar as adversidades, como também aprender e se adaptar às mesmas;
2º) – A convivência social tem um limiar de saturação. Ela pode chegar a um determinado momento de ser impossível. Porém quem está incomodando não se toca e quem está incomodado não tem para onde se retirar. Exemplo clássico disto é a família que se submete a todo tipo de abuso de um dependente químico na ativa. Eles ficam incomodados, mas não podem e não devem se retirar do ambiente.
É exatamente neste segundo aspecto que iremos nos ater neste texto. Poderíamos dizer que nesta família afetada pela dependência química este ditado deveria ser modificado por algo assim:
“Quem está incomodando que se retire”
A família construiu uma história. Os pais e demais familiares lutam para manter o bom funcionamento do lar e, um membro, dominado por uma doença grave como a dependência química é capaz de incomodar a todos, não só os membros daquela família, mas as vezes, toda a vizinhança. Não tem sentido os incomodados se retirarem e deixar o “bonitão” com toda a liberdade do mundo para continuar fazendo o uso e abuso da droga.
Assim, temos que sair do lugar do “incomodado” para o lugar daquele que “incomoda”. Estabelecer limites e regras, por em prática as consequências tirando mordomias e o excesso de liberdade são boas maneiras de incomodar.
Neste sentido, revertemos o ditado, ou seja, se o dependente está se sentindo incomodado por não poder fazer o uso da droga como gostaria, que ele se retire da nossa casa, do nosso lar.
Lembrando, porém, que a alternativa do tratamento sempre deve estar em pauta. Não podemos abandonar um doente.
Fica aí mais uma reflexão para todos nós
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico – Especialista em DQ