Drogas e dependência social
Nas edições anteriores escrevemos sobre “drogas e dependência física” e “drogas e dependência psíquica”, “drogas e dependência emocional”. Nesta edição vamos discorrer sobre outro aspecto da dependência química: A dependência social.
Todos nós sabemos que o ser humano é um ser biopsicossocial, ou seja, temos os nossos aspectos biológicos, psíquicos e sociais. A dependência química afeta o ser humano em todas as suas dimensões. Ao usarmos o termo “dependente químico” na verdade estamos reduzindo a complexidade desta doença. É exatamente sobre isto que estamos refletindo nesta coluna.
Desde a mais tenra idade, o bebê humano precisa da relação com o outro para se desenvolver. Além do alimento, o “filhote” humano precisa de afeto, carinho, colo e cumplicidade.
Na medida em que o ser humano se torna criança, além dos pais e dos familiares, ela vai precisar da convivência com outras crianças. O brincar, o conversar e até mesmo as brigas fazem parte do desenvolvimento saudável deste ser.
Ao chegar na adolescência, a necessidade da turma, especialmente do mesmo gênero, se torna tão importante quanto os suprimentos físicos. O famoso “bando” dos quase iguais contribuem para ajudar na formação da identidade pessoal, além de aliviar o drama das dores de crescimento, tão comum nesta fase da vida.
É exatamente nesta fase que a grande maioria dos dependentes químicos experimentam as drogas (legais ou ilegais). Quando o adolescente possui a pré-disposição orgânica para desenvolver a doença, ele tende a voltar cada vez mais à próxima experiência. Com o tempo suas “doses” se tornam mais frequentes e maiores e, não raras vezes, evolui para drogas mais pesadas.
A dependência química vai se instalando e o seu ambiente social vai se tornando o do consumo excessivo da droga. O abandono aos colegas da infância e da adolescência que não possuem a doença vai acontecer naturalmente, bem como o afastamento da família.
Como as drogas vão atuar diretamente no seu sistema do Neocortex (novo cérebro), responsável pelo nosso senso crítico e censura, o dependente passa a ter muitas dificuldades no seu convívio social com os não dependentes. Assim, ele restringe sua vida social apenas entre os iguais dependentes, acumulando fracassos sucessivos no ambiente escolar, do trabalho, nos relacionamentos familiares e afetivos.
Para se sentir amado entre os seus iguais, o uso abusivo das drogas é essencial, além do famoso “salvar” o companheiro quando o mesmo estiver fissurado. Usar as drogas juntos vira sinônimo de companheirismo e pertencimento a mesma “tribo”.
Este quadro pode evoluir para um processo que poderíamos de chamar de “autista induzido”, ou seja, o comprometimento do dependente pode chegar ao ponto onde o mesmo só relaciona com a própria droga, desprezando até mesmo a sua “tribo” e sua família.
O caminho de volta com o tratamento deve levar em consideração estas dificuldades de socialização. Para isto, a família deve estar preparada para propiciar ao dependente químico em recuperação um ambiente saudável capaz de ajudá-lo a se inserir na sociedade como tal.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico – Especialista em dependência química