“As drogas” de comportamento
Um termo bastante utilizado nos grupos anônimos é o famoso “só tampou a garrafa”, ou seja, de maneira bem simples esta frase nos diz algo extremamente complexo. Ela fala do dependente químico que só parou de fazer uso das drogas, mas mantém a droga de comportamento.
Nas Comunidades Terapêuticas utilizamos outro termo bastante conhecido: “Vocês não vieram para cá apenas para parar de usar as drogas, vocês vieram para mudar seus estilos de vida”.
A sobriedade não é apenas a abstinência das drogas. A abstinência é apenas o primeiro pré-requisito para alcançar a sobriedade. Na literatura dos grupos anônimos tem um conceito que deixa isto muito claro: “é preciso remover os defeitos de caráter ampliados ao longo do período da dependência química”. Por causa disto que é fundamental estar sempre em tratamento.
Estes defeitos de caráter é que nós chamamos de “drogas” de comportamento. Dentre vários podemos citar:
1 – Comportamento da mentira: A maioria (para não dizer todos) dos dependentes desenvolvem este comportamento. Para sobreviver no mundo da adicção, a mentira é fundamental. Se o dependente em recuperação não trabalha este defeito de caráter ele pode até parar de fazer o uso da substância, mas sua vida estará muito longe da sobriedade;
2 – Comportamento da irresponsabilidade: O dependente é “viciado” nisto. Não assume seus compromissos financeiros, sociais, profissionais e até mesmo com o seu próprio tratamento. Não raro eles negligenciam a frequencia nos grupos de apoio, no psicólogo, no psiquiatra e na disciplina de tomar a medicação nas horas determinadas pelo seu médico. Ele continua de alguma maneira terceirizando esta responsabilidade para outros;
3 – Comportamento de procrastinação: Deixar para depois tudo. Ele se comporta como um “fusquinha 70 com bateria arreada”. Alguém tem que está sempre empurrando ele para ele andar;
4 – Comportamento de outras adicções: Compulsões por comida, trabalho, jogos de azar, pessoas, sexo, pornografia, celulares, computadores, compras, vendas ilícitas, etc… são comuns quando não se trata de maneira adequada;
5 – Comportamento de indisciplina: Hábitos antigos como dormir de dia e ficar acordado a noite, chegar atrasado nos compromissos, sumir sem dar notícias para familiares, amigos e empregadores. Esta indisciplina tem reflexos no seu ambiente físico (Quarto, guarda roupa, higiene pessoal e cuidados básicos de saúde como alimentar, aparência física, etc).
6 – Comportamento de soberba: Na medida em que ele vai ficando abstêmio das drogas, sua prepotência, arrogância e o orgulho começam a tomar conta da sua mente. A certeza de que não precisa mais de ajuda começa a aparecer e ele vai se tornando uma pessoa insuportável de conviver. Esta soberba empurra o dependente para o isolamento e a recaída na substância é apenas uma questão de tempo;
Diante de tudo isto é importante ressaltar que a família e o dependente devem atentar para estes comportamentos. O uso das substâncias é apenas a cereja do bolo. É a consequência das “drogas” de comportamento.
Outra observação necessária é que a família codependente vai recaindo também nestas “drogas” de comportamento. Se você é familiar fica atenta aos seus comportamentos e não negligencie o seu tratamento.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico – Especialista em dependência química