Onde passa um boi passa uma boiada
Uso sempre este ditado popular quando estou atendendo um dependente químico. Mais uma vez a sabedoria do homem do campo, com sua simplicidade nos ensinam muitas coisas. Na roça, o fazendeiro e seus colaboradores ficam muito atentos à manutenção das cercas dos pastos e dos currais, afinal, qualquer arame arrebentado ou poste caído pode fazer com que um boi passe e se perca na floresta. Quando isto acontece, ao passar o primeiro boi, a boiada vai passando lentamente até o curral ficar totalmente vazio, podendo gerar muitos prejuízos ao fazendeiro.
Utilizo esta analogia para explicar a relação de um dependente químico com as drogas. Assim com os bois, o dependente ao fazer o uso da substância, abriu a porteira para as outras entrarem. Com propriedade, os Alcoólicos Anônimos afirmam com convicção: “EVITE O PRIMEIRO GOLE E FREQUENTE ÀS REUNIÕES”. Há 94 anos que a base de recuperação de milhões de alcoólicos em todo o mundo é esta.
Quem sou eu para questionar esta afirmativa. O dependente químico consegue parar de usar as drogas. O que ele não consegue é controlar seu uso. É usar socialmente. Enquanto um dependente químico não compreender e aceitar esta realidade, seu histórico vai ser de recaídas frequentes e a evolução da doença vai continuar levando toda a boiada se perder na floresta.
O máximo que consigo mudar nesta afirmativa do AA é invertê-la, ou seja, acho mais apropriado se ele fosse assim:
“FREQUENTE ÁS REUNIÕES E EVITE O PRIMEIRO GOLE”. Acredito que é frequentando as reuniões, ou seja, fazendo o tratamento ( que não necessariamente só as reuniões) é que o dependente vai conseguir evitar a primeira dose.
Este mesmo raciocínio pode ser levado em consideração pelos codependentes. Espero ter ajudado nesta reflexão.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico