As drogas e o vazio do coração humano
Segundo Freud, o ser humano é o ser da falta. Somos uma raça desprovida de plenitude. Desta forma, todos nós estamos sempre em busca de algo externo para preencher este vazio da nossa alma. Freud chama este “algo externo” como objetos psíquicos, objetos estes que sempre se apresentam com a promessa de preencher este vazio existencial.
Assim, deste a nossa mais tenra idade, o bebê vai à busca do seu primeiro objeto psíquico: O seio da mãe. É ali que ele preenche suas necessidades físicas e emocionais. Com seu desenvolvimento biológico e psíquico, estes objetos vão se ampliando, passando para o sujeito mãe, o pai e demais familiares.
Quando chegamos à adolescência, mais uma vez vamos à busca de outros objetos psíquicos como os amigos, a escola, o esporte, a “namoradinha (o)” e não raro, o objeto psíquico droga. Na insegurança tão comum nesta fase da vida, o adolescente encontra neste objeto uma “muleta” na qual ele pode se escorar para se inserir no seu grupo social. Após algumas latinhas de cerveja, de um trago no cigarro de nicotina ou baseado, o “patinho feio” da festa se sente como o mais belo dos “cisnes pretos”.
Quando o objeto droga encontra um corpo e uma mente predisposto a desenvolver a dependência química acontece o “casamento perfeito”. O adolescente encontra o “elixir dos deuses” capaz de leva-lo ao estado de nirvana, ou seja, o vazio da sua alma foi preenchido.
O problema é que uma hora a droga vai sair do corpo e da mente. A ressaca moral e física bate na cara do dependente. O vazio vira uma cratera e, através da tolerância psíquica e física, o dependente precisa de cada vez de mais drogas para obter a ilusão do prazer da droga.
Assim, a dependência vai se instalando silenciosamente e quando o usuário assusta, ele já não consegue ficar sem este objeto psíquico. Quando isto começa a acontecer o dependente vai se distanciando dos demais objetos psíquicos como o trabalho, a escola, o esporte, a família, a igreja, os amigos que não fazem uso das substâncias, etc.
Ao final deste processo o dependente termina sozinho com seu objeto psíquico avassalador. Ele começa a perder a sua condição de sujeito, ou seja, perder sua capacidade de fazer escolhas. Em termos psicanalíticos, ele se torna um objeto da droga. A droga que o consome e não o contrário.
Assim, alguém mais sóbrio, deve ajudar o dependente a conseguir enxergar esta realidade, afinal ele não consegue se ver dependente. O doente não tem consciência da sua doença porque a doença comprometeu seu senso crítico.
Aqui a gente se depara com outro complicador: Os familiares também foram adoecendo neste processo desenvolvendo a codependência, estando assim também fragilizados e incapazes de tomarem as decisões necessárias para levar o dependente ao tratamento.
É neste contexto que afirmamos com convicção: “A melhor maneira que a família tem de ajudar um dependente químico é se ajudando”. Por isto que a família ao se fortalecer ela vai conseguir estabelecer limites e consequências e estará em condições de “ajudar não ajudando o dependente na ativa”. Conduzir o dependente ao tratamento é essencial para o sucesso na recuperação.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico – Especialista em dependência química