Os três “Ces”
Uma ferramenta muito importante para o nosso tratamento é pensar nos três “ces”:
1º) – Eu não tenho CULPA: Ninguém tem culpa pelas escolhas dos outros. Todos os seres humanos são providos do livre arbítrio e um dia vão fazer suas escolhas pessoais que não necessariamente tem alguma relação com sua educação ou exemplos do lar. Além disto, cada sujeito é herdeiro de particularidades, de traços de caráter exclusivos que, de maneira única vai interferir na sua relação com o ambiente externo.
Outra variável importante de ser considerada neste aspecto é que cada dia que passa a influencia do núcleo familiar se torna menor na formação da personalidade do individuo. O desenvolvimento tecnológico, as redes sociais e a facilidade de comunicação e de deslocamento vão interferindo nesta formação.
E por último, não menos importante, vale a pena ressaltar que, com raríssimas exceções, os pais sempre dão para os filhos o que acreditam ser o melhor para estes. Erram muitas vezes não porque querem errar, mas sim, porque não possuem o conhecimento e o preparado necessários para educar seus filhos.
2º) Eu não sou a CAUSA: Próximo da culpa, a ideia da causa é muito simplório. É querer reduzir um problema tão complexo como as dependências a uma causa específica. Na verdade, a dependência química ( ou outras) tem várias causas, por isto são chamadas transtornos de comportamento multifatoriais. Componentes como bio (herança genética ou orgânica), psico (mentais e emocionais) e sociais (ambiente familiar, escolar, comunitário, econômico, social). Todos estes fatores interferem na escolha do sujeito. Percebe-se que, apesar de importante, o ambiente familiar é apenas um dos componentes causais da dependência.
3º) Eu não sou a CURA: Muitos familiares acreditam que vão salvar seus filhos. Que possuem o poder de curá-los e lutam arduamente para isto. Fazem verdadeiras loucuras tentando proteger suas “crias” e, infelizmente, o problema vai se agravando cada vez mais, gerando muito medo, raiva, tristezas, decepções, conflitos e quadros profundos de ansiedade, depressão e podendo levar a sintomas físicos graves.
A família precisa entender que o seu primeiro passo para iniciar o processo de “cura” começa com ela mesma. Os pais devem buscar ajuda para ai sim ajudar seus filhos. Cada um é responsável pela busca do seu tratamento. Como o nosso comportamento pode afetar o comportamento dos nossos filhos, a “cura” pode começar a ocorrer de maneira natural.
Assim, eu não sou a “cura” dos outros. Posso ser a minha “cura” que independe da “cura” do outro. Portanto, vamos em busca do nosso tratamento e deixemos o outro fazer a caminhada dele. Quando ele pedir ajuda estaremos pronto para ajudar.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo clínico – Especialista em D.Q.