Anfitriões indesejados
Certa vez, um jovem residente na Fazenda de Caná me procurou para atendê-lo. Logo percebi que estava muito ansioso e sua respiração estava ofegante e o conteúdo das palavras saia em “pedaços”. Questionei-o sobre o que estava acontecendo quando, um pouco mais calmo, respondeu:
– Faltam alguns dias para eu sair de visita a minha família e estou querendo pedir ao Padre Osvaldo a adiar esta visita.
Acostumado com situações semelhantes ao longo destes 30 anos atendendo os dependentes de drogas, eu fiz a pergunta costumeira:
– Qual é o motivo de não querer ir visitar seus familiares? Afinal já se passaram seis meses que você esta aqui internado, distante deles?
Com lágrimas nos olhos, o jovem disse:
– O senhor não tem ideia de como minha família é complicada. Meu pai é alcoólico e não aceita sua doença. Minha mãe fuma e meu irmão gosta de um baseadinho. Como vou ficar cinco dias com eles nesta situação?
Outra situação inusitada que aconteceu alguns anos atrás com outro residente que me procurou também é um exemplo de como a família que não se tratou de maneira adequada é uma péssima anfitriã para receber o residente em ressocialização:
O jovem chegou me relatando o seguinte fato:
– Doutor Cláudio, na primeira vez que saí de visita aos meus familiares, eu tomei um susto quando me deparei que depois de seis meses em tratamento, o barzinho do meu pai ainda estava ali na sala de estar, intacto, da mesma maneira do meu tempo de garoto onde eu bebia as garrafas de pinga, vodka e vinho no bico e enchia as mesmas de água para meu pai não desconfiar.
o jovem continuou:
– Ao voltar para a fazenda, resolvi esculpir na madeira um grande crucifixo para afixar acima deste barzinho. Na segunda visita, imediatamente coloquei o crucifixo no lugar imaginado e todas as vezes que dava vontade de beber, eu me dobrava diante do barzinho/crucifixo e pedia a Deus forças para superar aquela tentação.
Estes dois relatos nos mostram a importância da família levar a sério seu tratamento. Só assim ela será uma anfitriã abençoada por Deus e não uma anfitriã indesejada.
Obs.: Estas histórias são verdadeiras.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo Clínico.