A firma
Não tem muito tempo que ao atender um adolescente no meu consultório me surpreendi com um comentário do meu paciente. No meio da sua fala ele solta algo inusitado:
– Doutor, eu tenho que me virar porque afinal a firma lá em casa tá falindo.
Sem entender direito esta fala, eu perguntei:
– Não estou entendendo. Seus pais são donos de uma firma?
Ele deu um sorriso e esclareceu:
– Não doutor, não é isto. A firma que falo é os meus pais. Eles já estão idosos e aposentados. A cada dia seus rendimentos são menores e a capacidade dos mesmos ir à busca de novos ganhos se torna cada vez menor. Então eu brinco que eles estão falindo.
Brincadeiras à parte, esta é uma realidade cruel. Nossos pais estão “falindo” no sentido produtivo de uma sociedade capitalista, porém não podemos esquecer que eles acumulam muitas experiências de vida com vitórias e histórias de superação.
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que esta leitura deste jovem tem um sentido interessante. Ele esta tomando consciência que tem que assumir a responsabilidade sobre sua vida e que não pode entrar na idade adulta dependente emocional e financeiramente dos seus pais.
Trabalhamos isto na sessão e aproveitei a oportunidade para avançar ainda mais nesta reflexão no sentido de que além de construir sua própria “firma”, ou seja, a sua independência, ele deveria também pensar nos cuidados que os pais vão precisar num futuro não muito distante.
O jovem entendeu o recado. Espero que consiga sucesso na sua empreitada.
Cláudio Martins Nogueira – Psicólogo clínico